sábado, 16 de agosto de 2008

68. Da alcateia


Num dos trajectos dos meus dias, percorro a Av. Bissaya Barreto desde o Penedo da Meditação até à Cruz de Celas. Vivi ali, até aos dez anos, no que era então o limite da cidade: uma aprazível avenida sem saída, sem circular, aberta às nossas bicicletas e aos passeios pela Quinta das Sete Fontes.
Hoje, com a mesma largura, é um dos principais acessos aos Hospitais da Universidade de Coimbra, ao Hospital Pediátrico, à Escola de Enfermagem Ângelo da Fonseca e ao Instituto Português de Oncologia. No entroncamento com a R. de S. Teotónio, continua a crescer a Urbanização Quinta de Voimarães, onde abundam as mais variadas clínicas e consultórios médicos.
Exceptuando o dos HUC, não existe um parque de estacionamento público no raio de alguns quilómetros (creio que o mais próximo será o do Centro Comercial Avenida, já perto da Baixa). Acontece com frequência encontrar carros parados em frente ao I.P.O., ou circulando muito devagar, vagamente perdidos. Gente que vem de fora, desorientada, à procura do Instituto, ou que encosta para embarcar familiares saídos da quimio assestada ao nenúfar, ou que desembarca velhos desejosos de mancar até à cama dos amores da vida deles.
Há quem buzine desesperadamente atrás destas almas de pássaro, como se a vida estivesse para lhes acabar no dia seguinte. Não sabem, os filhos da puta não sabem.
(Foto de Jean-erik, colhida aqui)

Um comentário:

FNV disse...

A vida desses filhos da puta nem começou; e também não sabem.