"Escureceu nem dei conta. Caminhar. Nestas ruas remediadas a escassez vê-se melhor no lusco-fusco. Não há lojas, não há centros comerciais autênticos não há pizarias. As paredes são da cor dos passeios cinzentos e estropiados e as pessoas são da cor dos sacos de plástico que levam agarrados às mãos. Um restaurante fechado, já estava assim quando para cá vim, uma loja de roupa diz que jovem e abandonada, ainda tem restos de liquidação, uma de mobiliário de escritório tapada com cartão castanho - essa deve ter fechado há mais tempo. E não há gente nas ruas. Há gente dentro das casas e dos prédios também baixos que parecem altos ao pé das casas baixas".
O lado positivo da crise é que o pessoal subitamente quer dinheiro e leva o pagante a sério. Ele é o mecânico que toca à porta para saber se não quero ver o tchk-tchk-tchk no carro, de que me queixei há uns meses. Ele são os pedreiros a retelefonar (!) por causa de uns orçamentos de que já tinha desistido. Ele é o jardineiro a perguntar se não pode antecipar o trabalho para esta semana. Por uma vez, sabe bem, mesmo que seja um prato frio.