quarta-feira, 24 de março de 2010

126. Whatever works*

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Durante alguns anos, aquelas EF Windsor Elongated brancas sobre fundo preto foram, simultaneamente, prenúncio de um prazer sempre demasiado curto e, no fim do filme, sinal melancólico de que começava um ou dois anos de privação. Depois, produziu-se um milagre chamado VHS e, com ele, as cópias sôfregas e ilícitas que nos permitiram possuir as fitas. As Windsor Elongated perderam um pouco daquele pathos, hoje servem só de senha aos fiéis.

Whatever works, sem ser estupendo, é um filme divertidíssimo, com um pormenor curioso.
Boris Yelnikoff é, evidentemente, a persona de Woody Allen, onde rodopiam, em caleidoscópio, Virgil Starkwell, Alvy Singer, Isaac e Harry Block. Mas se tivesse sido o próprio W. Allen a desempenhar Boris Yelnikoff em vez do (aliás magnífico) Larry David, suspeito que nos enfadaríamos. As catilinárias corrosivas, intermináveis e hilariantes de Boris ganham outra altura e graça se as desligarmos de W. Allen representando-se a si próprio. Encarnam na nossa realidade, como se fosse possível ser assim para lá de W. Allen.
E eis o paradoxo: a sobre-representação de si próprio conduz, a termo, a que a persona representada fique melhor nas mãos de outro: hello, I must be going.

* No prato: Groucho Marx, Hello, I must be going

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