domingo, 8 de novembro de 2009

117. A presteza do mal









Celebrámos condignamente o primeiro domingo de chuva invernosa: telefones desligados, espreguiçamento geral e, no DVD, Vampyr, de Carl Th. Dreyer (1932); mais logo, castanhas assadas.





Diz Dreyer: "quis criar na tela um sonho acordado e mostrar que o horrível não se encontra nas coisas que nos rodeiam, mas no nosso subconsciente".




A cena da morte do médico (Jan Hieronimko), sufocado pela farinha que vai sendo moída na azenha, foi parcialmente censurada na primeira exibição do filme, em Berlim, no ano de 1932 (tal como, aliás, a execução da vampira com o inevitável ferro aguçado no peito). Na verdade, a agonia do médico foi abreviada.

A edição que comprámos tem as duas cenas originais (mais 53 metros de fita), mantidas na versão francesa. E o médico da aldeia morre, de facto, mais devagar, no meio da farinha branca, exibindo um sofrimento inusitadamente real para a cinematografia da época.

Não mais do que dez anos depois, também em Berlim, Am Grossen Wannsee, decidia-se a Endlösung, onde a sufocação por gás teria um papel preponderante.
Sim, o horrível está no subconsciente, não admira que o mal irrompa de um momento para o outro e se "banalize" (Arendt), na sua realização, com facilidade.

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