Cada uma à sua maneira, todas as idades são tramadas. Mas umas são mais tramadas que outras. Um tipo vai correr, ou fazer outro exercício qualquer - porque tem que correr, ou fazer outro exercício qualquer, o colesterol, o tabaco, os enchidos, o álcool, as varizes, a vida passada em cima das nádegas, dizem, e dizem sabiamente - e começa a olhar de esguelha para o corpo, meu cabrão, nem penses em falhar-me. É uma espécie de segunda idade adulta (a primeira começa por volta dos 20, quando, por uma ou outra razão, percebemos que também somos mortais).
Só que esta é mais tramada, porque nos dissociamos do corpo, ele ali, fora de nós, como uma cilada permanente, e tornamo-nos sapadores, despertos sempre para uma mina enterrada num vaso cerebral ridículo ou noutro poço qualquer.
A grande esperança é que daqui a 20 anos o corpo já pense por nós, encostados sorridentes num sótão esconso da matéria.
A grande esperança é que daqui a 20 anos o corpo já pense por nós, encostados sorridentes num sótão esconso da matéria.
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