segunda-feira, 26 de abril de 2010

129. Gn 2

No sábado, ouvi um padre que muito admiro narrar uma bela versão da criação: Adão e Eva foram, ab initio, um projecto de amor divino, que os fez incompletos para que se completassem. Seriam, portanto, resultado e representação do amor absoluto, duas metades do Ser que se realiza na acção.
Não parece que tenha sido bem assim: a história do Génesis é muito mais sombria.
Deus fez o homem e mandou-o cultivar e guardar o jardim do Éden (Gn 2: 15). Só depois percebeu que não era conveniente que o homem estivesse sozinho, e decidiu dar-lhe uma "auxiliar" (Gn 2: 18). E a mulher torna-se necessária apenas quando o homem, tendo dado nome a todos os animais, não descobriu neles uma "auxiliar adequada" (Gn 2: 20).
Portanto: o tédio, a angústia e a insatisfação são anteriores à mulher. Ela "auxiliou" o homem, e alguma coisa melhorou; mas depois ganhou a sua própria agenda (começou por aprender serpentino) e o homem ficou ali, parado e mudo, a olhar o paraíso onde era "inconveniente" que estivesse sozinho. E era, de facto, mas sem que pudesse compreender porquê.
Por isso, se perguntados, continuamos, como Adão, a responder mecanicamente: "Em nada. Não estou a pensar em nada".





*No prato: Pink Floyd, Wot's... uh the deal?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

128.

Here, across death's other river
The Tartar horsemen shake their spears

T. S. Eliot, The wind sprang up at four o'clock







* No prato: Brian Eno, By this river

segunda-feira, 5 de abril de 2010

127. Efeitos secundários

"... em alguns pacientes pode verificar-se náusea, indigestão, irritabilidade, sonhos anormais (...)".
Confirmo. A noite passada voei para o crepúsculo montado numa espécie de cabra alada e o ambiente era mais ou menos este:






Eta remedinho bacano.











*No prato: Lemongrass, A journey to a star